domingo, 17 de maio de 2009

O HOMEM TAMBÉM SE APAIXONA

Homem também se apaixona. Só que não sai esparramando por aí. Para ele é ridículo falar de amor. Raríssimas são as vezes nas quais se ouve de um homem que está apaixonado ou amando de verdade. No fundo está babando de felicidade, mas fica na dele, na moita. É lei não falar de amor. A sós - com a amada - é meu amor em qualquer idioma. É I love you pra cá, jet’aime pra lá, se brincar, ama-se até em grego. Aliás, na terra de Sócrates, por causa da paixão de Páris por Helena de Tróia, aconteceu o maior quiproquó da história: mataram Brad Pitt na tela do cinema e mais de 100 mil gregos e troianos.

O apaixonado tem atitudes anormais. Primeiro some dos amigos. Tira férias dos botecos, evapora-se. Sabe-se agora que se exila em restaurantes ou no máximo em barzinhos à média luz, com ela, claro. A mesa é aquela, lá no cantinho. Bebe somente com a amada (nunca se bebe tanto vinho na vida!). Passa a frequentar shoppings - coisa abominável quando se está avulso. É um tal de trocar a camisa que ela deu, as sandálias - presente dele - cujo pé esquerdo ficou apertando o mindinho - requerem um número maior. Os casais apaixonados vivem de beijos e de planos. Planos urgentes. De se enroscarem. Os casais apaixonados sentem falta de ar deles mesmos. Eles querem tudo um do outro. Fora os montes de sorvete. Os casais apaixonados são os maiores consumidores de sorvete do planeta - faça sol ou faça frio. Os casais apaixonados se evoluem, tornam-se amantes (os amantes são os apaixonados com diploma de doutorado) e querem fazer tudo juntos. Trata-se de uma sociedade muito limitada, pois bebem no mesmo copo até veneno. Vide Romeu, vide Julieta.

Os amantes são ilógicos, compreendem os crimes passionais, o suicídio, e as demais tragédias da raça humana. Os amantes aplaudem o ridículo do amor dos outros amantes. Os amantes chegam atrasados ao trabalho. Os amantes sempre estão exaustos. Os amantes não sabem se vão se encontrar no dia seguinte. Os amantes são imprevisíveis e irresponsáveis. Os amantes riem muito e choram muito. Os amantes atrapalham o trânsito e incomodam os outros no cinema. Os amantes comem pouco e bebem muito. Os amantes sussurram em pleno deserto. Os amantes sentem calor no rigoroso inverno e sentem calafrios no verão. Os amantes ruborizam as velhinhas e provocam os invejosos. Os amantes brigam e selam a paz num átimo de segundo. Os amantes não se perdoam, porque não têm o que perdoar, posto que no mundo deles não existe o verbo perdoar.

O ser apaixonado é ávido de afeto e incapaz de renúncia. O apaixonado não pensa em estabilidade, se equilibra despercebido na corda bamba. Enquanto apaixonado, não sabe viver sem emoções fortes. Perde peso e ganha olheiras rapidamente. O mundo em que vive é intergalático. Ele não precisa de drogas (químicas) para viajar, a paixão é um vício, uma droga cuja química nenhum cientista explica. A paixão é uma viagem para as galáxias. Para ele não existe vida fora do planeta paixão. Mas dentro dele tudo é colorido, forte, quente e capaz de explodir a qualquer momento.

Quando o homem ousa falar de paixão, de amor, quase sempre fala de um tempo passado, bem distante, nunca no tempo presente: tive uma paixão imensa por fulana; houve um tempo que eu arrastava um bonde... Quando fala da paixão de um amigo conjuga-se em tempo real: ele está enrabichado com aquelazinha; juntou seus trapos com a outra etc. Parece até um libelo de acusação. O amor mete medo aos homens. Medo de se entregar por inteiro, de não encontrar a saída (da relação) se não der certo. Medo de se sucumbir diante da mulher. Medo de se arriscar, de ser feliz. Como nós homens somos tolos e orgulhosos!

Nem que você saia machucado (mais uma vez), com alguns pontos de sutura no coração, na alma, vale a pena se apaixonar. O que viemos fazer nesta vida? Descontar cheques? Pegar fila no supermercado? Ficar diante da TV assistindo o Big Brother? Que vida mais estranha! Faz mais sentido ficarem os dois na cozinha - com duas taças de vinho - fazendo uma farofinha, assando uma galinha pra depois do amor.

Viver uma história de paixão é redescobrir as coisas mais belas da vida. Por isso, os poetas quando têm a sua paixão interrompida, compõem as mais tristes e belas músicas possíveis.
Se você não se lembra ou não sabe, fique sabendo: não existe nada melhor nesta vida do que fazer amor com quem se ama. E nem existirá.

Fonte: http://blogs.abril.com.br/amordealmas/2009/02/homem-tambem-se-apaixona.html


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